terça-feira, janeiro 27, 2009

Porque escrever hoje ?

Hoje não me lembrei, hoje não senti, hoje não chorei…
Hoje, foi um dia qualquer, uma segunda de manha que tarde se fez, que ao fim de umas horas agendou mais um momento de diversão entre amigos de treinos e cantigas de negros que lutaram por algo que os libertou…
Não estou preso, não sinto a liberdade que devia sentir. Não consigo esboçar o que quero fazer, não sei imaginar um esboço que amo fazer. Perdi a imaginação que sei que me caracteriza que me gabo de saber fazer desenhando tudo e mais alguma coisa.
O último esboço que fiz, estava em férias… no aconchego de uma casa amiga, umas férias diferentes que procurei identificar num caderninho de esboços que comprei com o propósito de marcar cenários, locais, situações, histórias… ouvia música, procurei inspirar-me e desenhar algo muito significativo. Nada me saía, pouco me inspirava… a música não reconfortava… e a noite caía.
Uma natureza forma foi desenhada, uma cenário perfeitamente identificado… mas o significado de uma viagem que não sabemos o destino. Mas de facto estive lá, numas férias engraçadas que ficam como uma boa recordação.

Sei desenhar de memória, sei esboçar um sentimento, sei marcar uma folha em branco. Lembro-me de coisas banais, lembro-me de coisas tão pequenas como uma folha seca que ali no chão estava.
Ainda sinto maresia que em longos momentos me acompanhou, sinto na face o frio da noite, e toda aquela estrada que me separava de um ponto longe da tristeza e solidão. Todo o percurso era um olhar para infinito quase sem saber onde estava, ciente da condução, mas longe da razão e por quais os motivos eu ali me encontrava. Não esqueço com facilidade o que a vida me ensinou, não sei viver com o que ela me proporcionou, mas sei que não é agora que vou saber organizar as minhas vontades. Sinto alguma fúria, desalento… quiçá frustração! É isso, frustração… tenho tanto e não tenho o que pensava ter, ou o que sempre sonhei que iria ter. Mas não tenho certeza que isso teria acontecido, daquela ou desta forma, pois não é o destino que moveu as minhas direcções. Nunca quis acreditar em destinos, pensava ser capaz de destinar a minha vida.
Como podemos destinar algo que não comandamos?
É como estar dentro de um avião, rodeado de pessoas, todas o mesmo ar pasmado de “ eu não sei pilotar isto” por isso, der por onde der… é para o avião for, que vamos. Vamos e seguimos com confiança, nas mãos de alguém que pode ser, ou não capaz de voar. Seguimos rumo, sempre em frente, numa viagem descontroladamente controlada, que nós não controlamos, que tudo pode acontecer.

Isto é uma mescla de sentimentos, é! Dito e ponto final.
Vinha a caminho de casa, após ver um drama de uma vida que começou pelo fim e terminou no inicio. Não me identifiquei com a história.
Mas vim pela noite, pensando que queria escrever ou desenhar… ou exprimir de alguma forma o que me vai na alma.
Como resumir algo tão grande como o silêncio de um grito no escuro? Como expressar o que procuro no horizonte, se não encontro ?
Acordo, trabalho, ouço música, solto um sorriso, bebo um café. Canto…e treino, sinto, desejo, compro, olho, apaixono-me, cozinho e como, viajo e divirto-me, abraço, e sou sincero, saio e volto, dou a minha mão, abro o meu coração, esforço-me e consigo, luto e venço… vivo e cresço… envelheço e o tempo foge.
Um apaixonado de natureza, é assim eu sou, assumidamente, não sofro mais que os outros, não desejo mais que ninguém, mas dou sempre mais do que devia, até por um desejo, e por breves momentos de paz interior. Gritei, chorei, berrei… olhei a noite e já não pude dizer que as estrelas estavam ali para proteger um sentimento, um desejo, uma vontade. Pois elas não estavam, e já não significam o que antes foram.
Um refúgio, é o que todos nós queremos.
Uma cama, um livro, um amigo, um local, um mar, um horizonte, um desenho, um diário, uma palavra, uma música, um abraço…
Toda a gente procura ter algo a que se “segurar”: um deus maior, um sentimento nobre, nobres ideais, filosofias de vida, leis e decretos, tradições e religiões, relações e família, etc. É o medo de perda, de falta de confiança, de fé de vontade. O homem é mesquinho e fraco, sabe que não aguenta a pressão, e a qualquer momento agarra no que estiver mais próximo, e atribui-lhes fé, culpa e pedidos de socorro. Neste momento refugio-me em música, em escrever e a ver se algumas lágrimas mais secas preparam-me para mais um dia do ano…e só faltam 338.

#sn.